tudo vs. nada

Desacompanhado na ausência de tudo, Desacompanhado quando me ausento do nada, Desabafo, mudo, irrito-me e tudo mas nada...

Palavra

A palavra nasce da circunstância,
Em sentido múltiplo e partilhado,
Multiplica-se em substância,
Procria em cadeia,
Vive em ordem,
Confunde-se com vida,
Com acção,
Faz parte do pensamento,
É transcendente…
Mistura-se com o espírito,
É omnipresente…
Materializa a consciência,
Constitui o ser das coisas,
É o significado da sua existência,
É o sentimento, a sensação,
É a fome e a privação,
É a lógica…
É a fonte da razão.

Touro Enraivecido


Um dos melhores filmes de sempre dirigido por Scorsese e protagonizado por Robert De Niro (óscar para melhor actor principal) no papel de Jake La Motta.


O filme, num preto e branco tão real como a sequência de imagens de uma vida, dá-nos a conhecer a vida controversa de La Motta - também conhecido por Raging Bull (titulo original do filme) ou The Bronx Bull - era o queixo mais forte do boxe.
La motta pautava-se pela inconsciência, alguma inocência e sobretudo por um carácter explosivo. Inseguro quanto a mulheres, manifestava-se da única forma que sabia...enfim, asas para De Niro potenciar toda a sua arte.
A auto-destruição de um homem que vive a vida sem pestanejar mas sem qualquer consciência útil.



Cavalleria rusticana de Mascagni é uma ópera italiana (passada na Sicília) cuja sinfonia intermezzo tem figurado em grandes bandas sonoras, como é o caso de Raging Bull, Godfather III ou Sopranos.

Origem

De onde vem?
Pergunto sem saber!
Porque ás vezes sei,
de onde vem sem o ver.
Sem saber porque vem,
insisto em saber porquê?
A razão não sei,
pois ando ausente.
vem sem razão aparente,
vai e mexe com a gente,
ninguém entende,
porquê perguntar?
Todos experimentam outro lugar
vai e vem sempre
num lugar diferente.

Crónicas de uma máquina de café

A disposição é sempre a mesma – nenhuma.
Não caísse o ponteiro dos segundos na inércia do tempo e o momento era sempre o mesmo. Depois de premido o rewind, está a sair outro café!
Amontoam-se ao balcão para consumar o hábito e de lá soltam um pedido, outras vezes uma ordem:
- Um café.
- É um café quase cheio, sff.
- Uma italiana.
- Olhe, para mim um café pingado.
- Um com cheirinho.
- Um curto, não quero nenhuma “banheira”!
- Eu quero um garoto, sff.
A entoação varia. A hora do dia e os dias são um factor. Outro, são as pessoas. Mas cedo tal diferença se perde e sempre com a mesma vontade enfrento a máquina, praguejando. E dou-lhe uso.
Desencaixo o filtro e segue-se uma cadeia de movimentos automáticos. Torno-me um apêndice maquinal da coisa.
Com uma pancada seca, engrenada de raiva, limpo o filtro. Vou praguejando baixinho, para que não me oiçam. Ao moinho do café vou buscar mais uma ou duas doses. Recomeça a moer automaticamente, o seu barulho abafa todo este meu sentimento que não contenho… Continuo a praguejar.
Os pedidos sucedem-se. Tento reter os que posso, mas nem olho para trás. Não dou importância ao que me pedem, apenas oiço e obedeço maquinalmente e por sucessão ao que apanho do ar.
Com o filtro já incorporado, ligo a máquina e rapidamente coloco lá uma chávena ou duas.
Sirvo os cafés.
A seguir, é inevitável o pedido de um copo de água para companhia.
Pagam e vão.
Deixam a sujidade na chávena (ás vezes nódoas de batôn que a máquina de lavar não limpa), o saco de açúcar desfeito, banhado em café e colado ao pires… e um copo de água.
(Mas porquê a merda de um copo de água se não a bebem? Porquê se nem lá molham os beiços?)
Vejo-me sozinho, irritado. Tenho uma ou algumas chávenas para pôr na máquina. Que remédio senão praguejar…
Entretanto entra alguém notoriamente bem disposto e sem reservas deseja-me um bom dia de peito cheio e bem audível. Aproxima-se do balcão e eu, bruxo, pergunto:
- Um café?
- Isso mesmo! Mas …
- Curto? cheio? Qual será desta vez a merda do pedido? – Penso eu…
- … Quero um café à Benfica.
- À Benfica!? Assim não conheço. Como é que é?
- É fraquinho, fraquinho.
Pronto. E ganhei o dia. Sai a gargalhada que se esvai á medida que encaro a realidade novamente.
Maquinalmente o café é servido.
A monotonia repete-se.

Into the Wild


Numa fase em que nos procuramos, muitos questionam-se sobre o seu espaço na sociedade.
Esta é a história de um jovem que não se revê na sociedade e se coloca perante o mundo no seu estado mais natural, para se encontrar consigo próprio. Mais do que ele próprio, ele quer-se encontrar com a verdade, como Homem.
Inspirado nos grandes escritores - especialmente Leon Tolstói, Henry David Thoreau e Jack London - que enfrentaram a natureza e as pressões da alma humana - Christopher MaCandless decide enfrentar -se a si próprio, desafiando os seus limites.
Propõe-se a uma viagem que o levará até ao isolamento, tocando cada pessoa que se atravessa no seu caminho com uma simplicidade complicada nos dias de hoje.
A sua situação familiar era desagradável, o que acaba por ser um condicionalismo social na vida de Chris. O seu passado marca imenso o seu carácter e a sua forma de encarar o mundo. No entanto, não é nenhum indigente, conclui a formação...mas foi impelido a socorrer o espírito.
Durante a sua peregrinação em busca de uma verdade absoluta depara-se com inúmeras dificuldades que vão moldando o homem que cresce nele... e o seu pensamento.
A certa altura escreve que a felicidade sem ser partilhada não é absoluta - Nota-se uma evolução de todo aquele fundamentalismo pela vida, pela sobrevivência, pelas leis naturais que até lá constituíam apenas a verdade para Chris. Começa por entender o porquê do Homem se sujeitar a uma sociedade quando ela é fonte de alienação.




Um filme que ajuda a entender a ideologia de uma essência perdida entre o progresso:
INTO THE WILD
Realizado por Sean Penn, e adaptado pelo mesmo a partir do livro homónimo de Jon Krakauer, conta a história verídica de Christopher McCandless - Alex supervagabundo!!

A banda sonora do filme ficou a cargo de Eddie Vedder - Pearl Jam, neste que é o seu primeiro albúm a solo - Into the Wild.

A questão do aborto

Esta é uma questão que nos envolve a todos e que de todos exige alguma liberdade de espirito e noção ética.
Não é só uma questão de vida, o que é alheio para alguns, mas também de justiça, democracia e ciência que nos implicam a todos nós, mães, filhos e pais, numa questão, que fractura a nossa sociedade, e que muitos fundamentam em idealismos, exacerbando-os, convencendo-se a si próprios pela forma como o fazem e não pela força dos argumentos que utilizam.
Em primeiro lugar, não há valor superior á vida, e de facto, este principio vem contemplado na constituição.
Discutir o aborto com base noutras razões, implica ignorar a primeira de todas, que muitos justificam não ser válida, pois o início da vida é discutível, do seu ponto de vista. Nesse sentido, alguns consideram que o embrião não pode ser alvo de protecção jurídica pois não o consideram um organismo vivo. Ora bem, o principio que se impõe é o da vida e não o momento em que esta efectivamente existe, o dilema torna-se filosófico, cientifico, mas há que considerar o facto de toda a vida ter origem num embrião, portanto, um embrião não pode ser afastado do processo biológico que é a vida.
Um embrião assinala o seu início, ou então indícios de que está para ocorrer. Faz parte dela, e sem embrião a vida não existe.
É a Natureza que assim se processa, como o podemos ignorar!?
Proteger a vida, desprotegendo um embrião não faz sentido.
A atitude despenalizadora ou liberalizadora do aborto implica a disposição por completo da vida humana ou da futura vida humana aos interesses de uma mulher sem ter de justificar a ninguém as razões da sua decisão, ou seja, implica a desprotecção jurídica do embrião em função de uma mãe (que assim já se pode considerar) que se torna livre de optar pela facilidade deste acto perante as difíceis circunstâncias do seu dia a dia, ou mesmo que não sejam difíceis, até por capricho.
Esta atitude revela-se desresponsabilizadora de um acto que não deve primar pela leviandade mas que deve comprometer toda uma sociedade que comunga os mesmos valores.
A ética, nesta acesa discussão, por vezes é adulterada. Convém lembrar que a ética é o reflexo da nossa consciência assente em valores e princípios que merece o nosso respeito, e pela qual nos orientamos no sentido da melhor opção. Funciona como um manual de orientação no sentido da liberdade de consciência. “ A reflexão ética tem de estar presente no momento das nossas decisões” - Esta reflexão ética, exige uma fundamentação razoável para cada decisão, e claro que para a levar a cabo, é necessária a responsabilidade inerente a cada indivíduo implicado no processo.
Não é razoável optar pelo aborto por uma questão de preconceito porque a sociedade não aceita a gravidez, por uma questão económica porque será muito difícil criar sem meios uma criança ou até por uma questão de falha do método contraceptivo, quando todos nós sabemos que há essa possibilidade. Se tudo isto acontece naturalmente, e quando o Homem a isto tudo se sujeita, porquê voltar atrás!? Não será esta uma medida desresponsabilizadora? È óbvio que o contrário seria mais custoso. Assumir um filho que é nosso mas para o qual não temos condições, custa. Custa porque as temos de arranjar, custa porque exige responsabilidade. E como muitos carecem de responsabilidade pelos actos em que incorrem, a sua fundamentação também carece de ética.
Os direitos das mulheres, é o argumento por excelência daqueles que defendem o aborto. Defendem que as mulheres o fazem porque são obrigadas, por falta de condições, por falta de informação, etc. E por isso não devem ter impedimentos nesse sentido, pois isso “obriga-as” a recorrer ao aborto na clandestinidade, correndo até risco de vida e ainda se sujeitam aos processos crime que a lei exige de acordo com a legislação do código penal.
A despenalização do aborto, vem resolver esta questão. O aborto passa a ser permitido nas primeiras dez semanas, acabam-se as perseguições, os processos-crime e, depois de bem entranhado, o aborto deixa de estranhar como último recurso a uma gravidez não desejada.
Na minha opinião, esta é a medida mais fácil, o que não a inviabiliza, até seria de louvar tamanha facilidade. O problema é que não é ética.
A vida passa a ser um problema porque gera necessidades que não devem ser resolvidas com a morte, nem com o impedimento do normal decorrer do seu processo.
A política do “Não” acarreta custos mais elevados a curto prazo, na medida em que deve atender a estas necessidades, inclusive á questão da prevenção e do aconselhamento. Esta é a medida mais difícil de tomar, que mais exige de todos nós mas é a que deve ser tomada.
Outro aspecto que pretendo realçar é o facto de se discutir esta questão com base em números e em tendências, o que não tem qualquer fundamento. Esta, é uma questão que não se pode associar a um exercício de escolha limitado aos recursos disponíveis.
Este assunto exige mais do que equações matemáticas, políticas económicas e de saúde ou de comparações inadequadas com outros países, exige a consciencialização de princípios e valores que não podemos descurar em função de preconceitos e facilitismos que procuramos fundamentar com dados e estimativas que não devem justificar qualquer opinião, pela razão de que os números reflectem as realidades ou as suas tendências e não podem justificar, apesar do seu carácter positivo ou negativo, o alhear de valores e princípios que se devem impor.
A vida deve existir por direito e por principio, e não por mero acaso de circunstâncias favoráveis.